Clubes de caça e tiro resistem às dificuldades para continuar existindo

Todas as segundas-feiras Engvino Weidgebant, de 89 anos, sai de casa e vai até o Clube de Caça e Tiro Jordão. O motivo é a tarde dançante que acontece no clube uma vez por semana. “Eu gosto de dançar, sem isso a vida não é a mesma coisa”, diz Weidgebant.

Foi a paixão pela dança e pela bocha que fez Weidgebant permanecer no clube de caça e tiro desde os anos 1965, quando ingressou como sócio. Ele conta que, assim como a maioria das pessoas na época, entrou no grupo por influência da família. “Meu irmão participava, então eu vim também”.

Muita coisa mudou de lá pra cá. Antes, para entrar em um clube de caça e tiro era preciso ser convidado, havia uma série de regras e as atividades, como bailes e campeonatos, eram praticamente exclusivas para sócios.

Atualmente, assim como a tarde dançante que acontece no clube do Jordão, os caça e tiros promovem atividades abertas ao público como forma de garantir a continuidade dos clubes e seguir proporcionando atividades sociais e culturais.

Muitos clubes têm a renda garantida pelo uso de estruturas como academias e utilização de quadras e piscinas. Estes sócios não necessariamente participam dos encontros culturais como antigamente.

Com resiliência, os clubes de caça e tiro continuam realizando as festas e campeonatos tradicionais, mas sentem o peso do tempo e temem pelo futuro. Se antigamente essa era uma das principais atividades sociais em família e os clubes eram disputados ao ponto de precisar de convite para entrar, atualmente o número de sócios é abaixo do esperado.

“Antigamente as crianças já participavam dos clubes com os pais e continuavam a ir. Hoje a gente não vê mais isso, as pessoas que estão nos clubes são na maioria pessoas mais velhas”, comenta Julio César Pitz, presidente da Associação de Clubes de Caça e Tiro de Blumenau.

 Restrições da Lei modificaram a atividade de tiro

O tiro, atividade que está no nome dos clubes, também precisou se adequar ao longo dos anos. Se antes as armas utilizadas eram de calibre de caça, agora só podem ser utilizadas as de ar comprimido, por causa de restrições em leis de compra, manuseio e posse de armas.

A mudança fez com que muitos apreciadores do tiro perdessem o interesse. Alguns questionam as leis. “Nunca aconteceu nenhum acidente com armas em clubes de caça e tiro, não vejo porque tanta restrição se nós cuidados tanto com a segurança”, diz Werner Bennertz, presidente do Clube de Caça e Tiro do Badenfurt.

Mesmo com as restrições, os clubes continuam realizando campeonatos de tiro e eventos que promovem as atividades.

Clubes de caça e tiro na Oktoberfest

Entre as atividades anuais dos clubes de caça e tiro de Blumenau está a Oktoberfest Blumenau. Além de participar dos desfiles, todos os anos os clubes montam brincadeiras tradicionais para foliões conhecerem um pouco das atividades do clube dentro do Setor 1 do parque Vila Germânica. A renda é revertida para os grupos.

Entre as atividades estão o tiro de ar comprimido, o tiro ao alvo, a bagatela, o bolão de mesa e o bolão de mira. “Os Clubes de Caça e Tiro que na maioria são grupos centenários, agregam a tradição, o costume e os movimentos culturais, trazendo essa alegria para Oktoberfest, seja nos desfiles, como também nos pavilhões do Parque Vila Germânica”, ressalta Pitz.

O presente dos clubes de caça e tiro é de resiliência, resistindo ao tempo e as dificuldades para continuar exaltando a tradição e a cultura típica. No próximo episódio da série, o assunto será o futuro, com os planos e sonhos para os clubes de caça e tiro. A reportagem será publicada na próxima sexta-feira, dia 24.

*Por Suellen Venturini